Falar sobre dinheiro ainda é um tabu, mostra pesquisa com americanos

44% dos americanos disseram que a conversa sobre finanças pessoais é a mais difícil que alguém pode ter

Valor Econômico – 02/04/2014

Por Chris Taylor | Da Reuters

Todo mundo sabe que alguns assuntos podem tirar qualquer um do sério. Religião, saúde, política, morte. Mas quando se trata da conversa mais difícil que se pode ter, uma nova pesquisa da Wells Fargo & Co. chegou a um vencedor indiscutível: o dinheiro. O dinheiro ficou bem no topo, diz Karen Wimbish, diretora da área de aposentadoria do banco em Charlotte, Carolina do Norte. "Não esperávamos isso."

Na verdade, 44% dos americanos disseram que a conversa sobre finanças pessoais é a mais difícil que alguém pode ter. A morte, um assunto que provoca medo e que poderia liderar uma pesquisa do tipo, aparece em segundo lugar, com 38%. Também bem distantes ficaram temas explosivos como política (35%) e religião (32%).

Você deve estar se perguntando quem preferiria falar sobre qualquer outra coisa a não ser finanças pessoais? Conheça Natasha Lannerd, de Denver. "Definitivamente sou uma dessas pessoas", diz Natasha, gerente de vendas de uma companhia de chás orgânicos. "Para mim é o fim conversar sobre isso, o fim. Tenho esse problema há tanto tempo que nem me lembro mais quando ele começou."

Natasha, 28, diz que o silêncio é um traço original de família. Ninguém em sua casa jamais falou sobre dinheiro quando era criança e, portanto, ela não tem o hábito de falar sobre isso agora que é adulta. "Cresci em uma família monoparental, não tínhamos muito dinheiro e nunca falávamos sobre o assunto", lembra. "Como resultado, quando eu cresci e comecei a ganhar um dinheiro razoável, nunca elaborei um plano e nem consegui me ater ao orçamento. Comecei a me preocupar quando percebi que acabaria sem uma poupança mesmo trabalhando 50 horas por semana por 20 anos. Não queria que isso acontecesse comigo."

Ela finalmente conseguiu tratar do assunto com a ajuda da planejadora financeira Maggie Kirchhoff, que a forçou a colocar as finanças domésticas em ordem. Mas sem esse encorajamento, ela acredita que teria ficado de boca fechada sobre o assunto indefinidamente.

Assim, o que exatamente está acontecendo aqui? Numa das sociedades mais ricas do mundo [como a americana], por que as pessoas têm tanto medo de falar sobre um assunto básico? "É uma conversa muito carregada, cheia de entrelinhas e significados ocultos", diz Daniel Crosby, um especialista em finanças comportamentais e presidente da IncBlot Organizational Psychology de Huntsville, no Alabama.

"Dinheiro significa felicidade, poder e eficiência pessoal, de modo que pode ser bastante assustador", diz Crosby. "Quando o dinheiro é curto, isso pode ser visto como deficiência da parte do provedor da família e, quando há muito dinheiro, há o temor de que a avareza tome o lugar do amor verdadeiro."

Seja qual for o motivo para evitar o assunto - erros envolvendo dinheiro, embaraço, medo de conflitos -, o silêncio não é uma solução de longo prazo. A seguir, destacam-se quatro princípios básicos para se ter em mente quando você superar os obstáculos e conseguir falar abertamente sobre suas finanças:

•Outras pessoas sentem-se do mesmo jeito - As pessoas sempre ficam caladas quando o assunto é dinheiro porque se sentem sozinhas e amedrontadas. Se você soubesse que todas as pessoas que vê na rua pensam e sentem a mesma coisa, talvez você não ficasse tão reticente.

"As pessoas que têm dificuldade para falar de dinheiro deveriam ser sinceras sobre essa dificuldade e seu desconforto", diz Crosby, que escreveu o livro "You're Not That Great", que trata da tendência humana de estragar as coisas. "E aqueles que recebem as notícias deveriam respeitar a confiança que é preciso para ter uma conversa tão difícil."

•O silêncio prejudica você - Quando adiamos conversas difíceis na vida, tendemos a pensar nisso como um adiamento benigno: em algum momento vamos falar sobre o assunto. Mas deveríamos pensar no silêncio como uma coisa que prejudica nossa qualidade de vida. Afinal de contas, sem a devida atenção, os problemas com dinheiro só tendem a piorar. "Ser retraído sobre o dinheiro é uma forma de perda de intimidade", diz Crosby. "E, quando não há intimidade, a relação morre. Isto é certo."

•O silêncio prejudica os outros - Se você tende a não conversar sobre dinheiro, pare por um momento e pense nos efeitos de longo prazo. Conforme visto com Natasha Lannerd, é provável que você transmita suas características para seus filhos, que por sua vez poderão passar para a geração seguinte. Seus maus hábitos poderão ser ampliados por 50 anos. "O que sabemos sobre dinheiro, geralmente aprendemos com nossos pais", diz Wimbish do Wells Fargo. "Se você é pai e não está conversando sobre dinheiro com seus filhos, está criando obstáculos para a próxima geração de poupadores e investidores", reitera.

•Você pode pedir ajuda - Mesmo que você nunca tenha falado sobre dinheiro e nem saiba por onde começar, as pessoas que ganham a vida lidando com esse tipo de coisa podem ajudá-lo a finalmente soltar a língua. Encontre um planejador financeiro profissional.

"Se eu quisesse aprender a tocar violino, arrumaria um professor", diz Natasha. "A mesma coisa se aplica a conversar sobre dinheiro: eu realmente precisava de alguém que me ajudasse nesse assunto. Assim que eu comecei a falar sobre dinheiro, percebi que o assunto não é tão assustador quanto eu imaginava."