Renda fixa garante meta de fundos de pensão no semestre

Levantamento da consultoria Mercer em sua carteira de clientes - 65 entidades com patrimônio de R$ 30 bilhões - mostra que o retorno mediano ficou em torno de 6% no primeiro semestre

29/07/2014 – Valor Econômico

Por Thais Folego | De São Paulo

A maior parte dos fundos de pensão conseguiu bater suas metas de rentabilidade no primeiro semestre deste ano graças ao bom desempenho da renda fixa, que foi a vilã do setor em 2013. Cerca de 60% do patrimônio de R$ 640 bilhões das fundações estão aplicados em renda fixa, a maior parte em títulos do governo de prazos longos e indexados à inflação.

Levantamento da consultoria Mercer em sua carteira de clientes - 65 entidades com patrimônio de R$ 30 bilhões - mostra que o retorno mediano ficou em torno de 6% no primeiro semestre, ante uma meta de retorno de 5,85%, equivalente a INPC mais 5,5%. Segundo Raphael Santoro, consultor de investimentos da Mercer, as fundações com peso maior de renda fixa tiveram resultados ainda melhores. As carteiras de renda fixa das fundações apresentaram rendimento mediano de 6,6% no período, enquanto na renda variável o retorno foi de 2,5%.

Entre as fundações da carteira de clientes da consultoria Luz Engenharia, a maior parte de pequeno porte, o retorno médio foi de 7%. O patrimônio total da amostra é de R$ 8,5 bilhões.

O Valor procurou as maiores fundações do país, mas a maioria não quis comentar o desempenho de suas aplicações. Algumas informam o resultado dos investimentos em seus sites e é possível constatar que atingiram rentabilidades em torno de 7% de janeiro a junho, superior às suas metas, caso da Valia (6,59%), da Fundação Cesp (6,28%), da Forluz (7,68%) e da Real Grandeza (8,02%).

"O começo do ano ainda foi difícil, mas de fevereiro para cá o mercado de renda fixa mostrou uma recuperação, com a queda das taxas de juros de longo prazo", diz Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp, fundo de pensão multipatrocinado por empresas de energia elétrica. Quando a taxa de retorno do título cai, o valor do papel, que se move em direção contrária, sobe. "O semestre foi positivo em relação à meta atuarial e devemos fechar com um superávit na casa dos R$ 100 milhões", diz Simino.

A Fundação Real Grandeza, dos funcionários de Furnas, tem colhido os frutos da queda dos juros de longo prazo. Quando a taxa da NTN-B de longo prazo bateu 7% no segundo semestre de 2013, a fundação aproveitou para comprar R$ 400 milhões desses papéis, melhorando o retorno e alongando a sua carteira de títulos públicos. "Tivemos uma ganho expressivo, pois compramos títulos de 2050 a 7% e hoje a taxa [de juros futuros para este vencimento] é de 5,95%", diz Eduardo Garcia, diretor de investimentos da Real Grandeza.

A Abrapp, associação que reúne os fundos de pensão brasileiros, divulga trimestralmente a média da rentabilidade atingida pelas fundações. O último dado, porém, é de dezembro do ano passado. Em 2013, o retorno médio foi de 3,28%, ante uma meta de rentabilidade de 11,63% (INPC mais 5,5%).

O mau desempenho de deveu, em grande parte, à volatilidade e às perdas com os títulos públicos, que sofreram forte desvalorização no ano passado depois que o Fed, banco central americano, sinalizou que poderia subir os juros. A Abrapp estima que a perda contábil da carteira de papéis federais do setor tenha sido em torno de R$ 60 bilhões no ano. Vale ressaltar que a conta é meramente contábil, pois os fundos não venderam os papéis, o que efetivaria o prejuízo.

Foi justamente a valorização desses papéis que ajudou as fundações no primeiro semestre, motivada novamente pelo movimento do Fed, que sinalizou que a alta dos juros não deve ocorrer este ano. O IMA-B 5+, índice que reflete o desempenho de uma cesta de NTN-Bs com prazo maior ou igual a cinco anos, apresentou retorno de 11,16% no semestre, após terem registrado perdas de 17,07% em 2013. "As fundações têm conseguido recuperar um pouco do resultado do ano passado", diz Maurício da Rocha Wanderley, coordenador da comissão técnica nacional de investimentos da Abrapp.

Segundo Santoro, da Mercer, a recuperação do valor dos títulos ainda não foi suficiente para "limpar" o retrato quando se avalia os últimos 12 meses, mas "dá um fôlego para a entidade quando se olha o horizonte de longo prazo", diz. Segundo ele, mesmo com o resultado ruim do ano passado, o IMA-B 5+ em 36 meses apresenta um retorno anualizado de 11,7%. "A volatilidade é grande, mas é um risco que tem se pagado", diz Santoro. Ele faz o comparativo com o CDI, que em 36 meses tem resultado anualizado de 9,15%, para mostrar que num horizonte de tempo mais dilatado, papéis de longo prazo têm compensado o investimento.

As fundações não fizeram mudanças relevantes em seus investimentos neste ano, segundo Cecilia Harumi, consultora da Luz Engenharia. Os gestores estão bastante cautelosos com o cenário econômico, principalmente por conta das eleições. "As fundações estão usando estratégias mais para defender seu patrimônio", diz Maria Paula Cicogna, consultora da Luz.

Na renda variável, o desempenho é positivo, mas longe das metas das fundações. A maioria dos fundos de pensão usa como referência o IBR-X, em vez do Ibovespa. Santoro lembra, porém, que com a mudança de metodologia do principal índice da bolsa brasileira neste ano, os dois indicadores ficaram bastante parecidos. No primeiro semestre o Ibovespa apresentou retorno de 3,22% e o IBR-X, de 3,01%. "Contra uma renda fixa com resultado superior a 6%, a renda variável continua puxando a rentabilidade para baixo", diz Santoro. Segundo ele, o IBR-X tem entregado um retorno anualizado de 1,87% nos últimos três anos.

Com um resultado ruim nos últimos anos, o peso da renda variável no patrimônio do setor tem diminuído. Após ter atingido 37% dos investimentos em 2007, fechou 2013 em 29%. No entanto, excluindo as grandes fundações - que têm uma parcela grande aplicada em ações - o percentual cai para cerca de 11%.

A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil e o maior do país, aplica ao redor de 70% dos ativos em ações. O maior plano da entidade atingiu retorno de 0,45% no primeiro trimestre, último dado disponível em seu site, ante meta de 3,36% no período. Como a bolsa teve um desempenho melhor no segundo trimestre, o resultado da fundação no semestre deve ter sido melhor. Procurada, a Previ informou que preferia não comentar desempenhos de curto prazo, uma vez que a fundação tem objetivos de longo prazo.

Ainda entre as maiores fundações, Petros (da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal) também não quiseram comentar os resultados do semestre e não informam em seu sites abertos o retorno das aplicações no período.