A vida de um casal americano que optou por se aposentar e rodar pelo mundo

Eles venderam sua casa em Paso Robles, na Califórnia, desfizeram-se de quase tudo, com exceção de alguns bens estimados, e se tornaram nômades

30/09/2014 – Valor Econômico

Por Mark Miller | Da Reuters, de Chicago

Para os americanos interessados em se aposentar fora de seu país, escolher onde viver pode ser um desafio. Mas Lynne e Tim Martin resolveram essa questão decidindo se aposentar em todo e qualquer lugar. Em 2011 o casal optou pelo que pode ser chamado de aposentadoria extrema no exterior: eles venderam sua casa em Paso Robles, na Califórnia, desfizeram-se de quase tudo, com exceção de alguns bens estimados, e se tornaram nômades.

Desde então eles estão vivendo em apartamentos e casas alugadas por períodos de tempo curtos, ao redor do mundo, e geralmente encontrados no HomeAway.com, um serviço da internet especializado em locações de imóveis para férias. Eles passam três ou quatro meses do ano nos Estados Unidos, onde também moram em imóveis alugados para férias.

Até agora eles já moraram no México, Argentina, Turquia, França, Itália, Reino Unido, Irlanda, Portugal e Alemanha. O sudeste da Ásia, a Austrália, Polinésia Francesa, Canadá e um retorno à América do Sul estão nos planos do casal. "Eu sentia que precisava conhecer mais o mundo e de fato queria experimentar a vida em outros lugares", diz Lynne.

Lynne, 73, é uma ex-publicitária; Tim, 68, foi dono de algumas pequenas empresas eletrônicas e escreve romances. Este ano eles publicaram um livro sobre suas experiências intitulado "Home Sweet Anywhere: How We Sold Our House, Created a New Life, and Saw the World" ["Doce lar em qualquer lugar: Como vendemos nossa casa, construímos uma nova vida e conhecemos o mundo", na tradução livre].

Ao decidirem falar sobre como criaram um estilo de vida livre e feliz, os Martin decidiram aproveitar o dinheiro que fizeram com a venda de sua casa e suas posses. "Tínhamos um portfólio que não era grande - não éramos ricos", diz ela. "Pegamos o dinheiro da casa e somamos ao portfólio", explica.

O consultor financeiro dos dois lhes envia um salário de US$ 6 mil por mês. Eles vivem com esses recursos mais os benefícios da Seguridade Social. O objetivo, contudo, é não gastar mais do que US$ 2,5 mil por mês com moradia, incluindo as contas de serviços públicos e limpeza. Em um lugar caro como Paris, eles alugam moradias menores. Também reservam US$ 1 mil para alimentação e US$ 500 para entretenimento e viagens. O resto é para despesas variadas.

Como o Medicare não fornece cobertura fora dos Estados Unidos, eles visitam seus médicos nos meses em que estão no país. Se a necessidade de cuidados com a saúde surge quando eles estão no exterior, onde os custos com os cuidados do gênero tendem a ser mais baratos, eles pagam do próprio bolso. Quando estão nos EUA, eles também carregam uma apólice de seguro saúde internacional para cobrir grandes despesas inesperadas - US$ 400 por mês.

Uma maneira de minimizar os custos é limitar as viagens. Eles tendem a permanecer em um único lugar por meses, sempre agendando viagens para períodos de baixa estação.

Uma tática favorita: "cruzeiros de reposicionamento" de baixa estação. "Os preços caem pela metade e isso é excelente para pessoas como nós que não possuem casa - temos moradia a bordo, além de transporte."

"Fomos para a Europa em fevereiro do ano passado", diz ela. "Estava nevando em Veneza quando chegamos, mas isso não tem importância para nós - só voltamos para casa em outubro."

Os Martin têm quatro filhas e sete netos na Califórnia, Texas e Flórida. Eles estão nos EUA por pelo menos duas vezes por ano e fazem questão de ver a família inteira quando estão lá. "Estamos muito mais interessados nos netos agora", diz ela. "Eles acham fascinantes as histórias que contamos do Marrocos, Istambul, Paris e Buenos Aires."

Lynne Martin diz que eles mantêm contato com os amigos via e-mail e Skype. "Essas relações estão mais fortes do que nunca", afirma ela. "Alguns amigos nos visitaram em Paris no verão passado e foi uma delícia mostrar para eles nossos lugares favoritos na cidade."

E eles também fizeram muitos amigos novos na estrada, alguns dos quais encontram nas viagens. "É uma ligação curiosa que os viajantes têm - parece que passamos a nos conhecer muito mais rapidamente do que em circunstâncias normais", diz Lynne. "Nos encontramos com nossos amigos alemães, mexicanos, britânicos, americanos e franceses em outros países, coordenando nossas agendas de viagem."

Fico imaginando se tanta viagem não é cansativo e por quanto tempo os Martin esperam continuar com esse estilo de vida nômade. "É claro que ficamos cansados - somos velhos", diz ela. "Mas a vida que levamos também tem espaço para o descanso. Não ficamos em hotéis, e sim em lugares com sala de estar, cozinha e quarto. Espaços reais para viver. Podemos tirar dias de folga que turistas realmente não conseguem ter. Se você fica em um lugar por apenas cinco dias, você precisa se mexer para conhecer aquele lugar. Se você fica um mês ou dois, você pode se dar ao luxo de ficar um dia inteiro em casa."

Os Martin afirmam que continuarão viajando enquanto a saúde permitir. Se a aposentadoria nômade deixou você animado, Lynne recomenda começar com um período de teste. "Tivemos sorte porque somos muito compatíveis e nos divertimos um com o outro", diz ela. "Mas muita gente pode não entender como você tem que depender um do outro quando está isolado e não fala um determinado idioma. Alugue sua casa e corra o mundo por alguns meses para ver se você se adapta."

Mark Miller é colunista da Reuters. Este artigo expressa as visões do autor, e não as opiniões do jornal Valor Econômico.